O Livro Que (Quase) Mudou a Minha
Vida
No ano
passado, 2013, eu li o melhor e mais significante livro de toda a minha vida.
Para contextualizar, eu estava no segundo ano do ensino médio e cursava durante
a manhã, apesar de, nas quintas feiras, ter aulas à tarde que iam até por volta
de dezoito horas. Como a minha família me deu autonomia desde cedo, eu vou e
volto de ônibus ou a pé para o colégio desde a sexta série do fundamental. Com a
violência dos dias de hoje é um pouco perigoso, mas meus pais acham muito
importante que eu esteja preparado para o mundo. Bom, acho que depois da
primeira vez que me assaltaram eu amadureci e aprendi a ficar mais esperto na
rua. Isso aconteceu na oitava ou nona série e eu fiquei com um sentimento forte
de raiva dos “pivetes” que me roubaram um fone de ouvido. Nos dias seguintes,
exagerado como eu era, comecei a andar com um canivete em um bolso e um soco inglês
em outro, contando com a sorte para encontrar os mal encarados que me
assaltaram e acertar as contas com eles. Mas o tempo passou e nada de eu encontra-los,
por fim, eu parei de andar com minhas armas e esqueci do assalto. Mesmo assim,
no fundo de mim ainda havia um sentimento forte de raiva pelos “pivetes” em
geral. Toda vez que eu estava na rua e suspeitava de alguém, o sentimento
voltava forte, eu começa a sentir calor e suar. Acabou que, certo dia voltando
da casa de um amigo por volta de 23h da noite, eu avistei um sujeito esquisito
vindo em minha direção, com receio por causa do horário eu atravessei a rua e
ele passou direto. Ao olhar para traz eu percebi que ele tinha sumido, mas
pensei que não era nada de mais e continuei andando. Na próxima esquina eu olho
para a esquerda e vejo o mesmo cara vindo correndo em direção a mim. Pensei
rápido e comecei a correr pelo mesmo caminho de que tinha vindo, pois tinha
visto um restaurante a quatro quarteirões dali. Naquela perseguição frenética
eu estava perdendo e ainda faltavam dois quarteirões para o restaurante, que
seria minha salvação, tive que bolar outro plano e rápido porque o cara estava
cada vez mais perto. Foi ai que eu lembrei que estava com a mochila do meu irmão
e ele sempre carregava um canivete em um bolso escondido nela para a diretora
do colégio não achar. Bom, como o cara tinha um caco de vidro na mão, era eu ou
era ele, abri o canivete, parei de uma vez só e enfiei a lâmina na barriga
dele. Quando contei para o meu padrasto ele me deu um livro, livro grande,
edição especial, 2000 páginas. Comecei a lê-lo e acabei em uma semana. Um feito
incrível já que tinha prova de física na semana. Na prova eu perdi média, mas
esse livro mudou em muito a minha vida. Depois dessa maravilhosa leitura eu
comecei a enxergar as pessoas com outros olhos, a me importar mais com os
sentimentos dos outros. Esse livro me mostrou a verdadeira miséria e a
verdadeira degradação humana, me fazendo dar mais valor a tudo o que eu tenho e
a mudar o olhar sobre os tais “pivetes” que eu supostamente odiava. Ele me
ensinou a analisar profundamente a sociedade, me ensinou que muito não é o que
parece ser. Esse livro é “Os Miseráveis”, de Victor Hugo.